prefiro me distrair dos astros

antídoto contra as paranoias cósmicas

Quando falo que sou astróloga a primeira coisa que as pessoas perguntam é “Ah! Onde a Lua está agora? Como está o céu esse mês?”. E aí elas ficam assustadas quando digo: “não sei, nem vi”. 

Como assim? Um astróloga que não acompanha as efemérides dia após dia? 

Então, existem muitas técnicas e práticas dentro da astrologia e não são todas as astrólogas que se ocupam com horóscopos diários. Eu trabalho com astrologia como uma ferramenta de escuta, como uma ferramenta terapêutica. E por isso, não me interessa tanto ficar acompanhando todo dia, toda semana, o movimento dos astros. 

A Lua, por exemplo, muda de signo a cada dois dias. Existem pessoas que fazem um acompanhamento da Lua como uma forma de perceber o próprio corpo, perceber o ciclo menstrual, para plantar e colher, estar em conexão com os ritmos da terra, com os ritmos das marés… 

No entanto, muitas pessoas, talvez a maioria, usam essas efemérides para ter um controle da vida. Muitas vezes vivem até aterrorizadas por esses posicionamentos astrais. 

Essa prática de controle acaba sendo uma forma de produção de paranoia, uma tentativa de colonizar o movimento do cosmos, dominar o imponderável, o mistério da vida, tampar a abertura para o devir, para o desconhecido. É justamente por isso que eu gosto de me distrair dos astros, de esquecer, de não acompanhar tão de perto assim, a todo momento, o que está acontecendo. 

A astrologia para mim tem a função de produzir escuta, encontro, produzir cartografias, ferramentas para se mapear, criar, usar símbolos e imagens para abrir a imaginação. Uma forma de se relacionar com a vida, com a (nossa) natureza, prática de pesquisa, investigação. 

Tem astrólogas que fazem horóscopos diários muito interessantes e que fazem um uso mais aberto dessa prática, mas não é o campo que escolhi atuar. Prefiro me distrair para estar aberta para “a eternidade novidade do mundo”, como diria o poeta. 

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