
Prelúdio
terra repousa em si
do repouso brota voz
canta silenciosamente
cantar silencioso da voz da terra que repousa
traz uma semente do céu
semente do céu
cai
cai
cai
vai de encontro ao silêncio
terra encharcada de sangue
surgem rochas as filhas mais antigas
as rochas guardam o cântico silencioso da terra dentro de si
surgem as feras
feras rasgam a terra
saem ensanguentadas a correr e urrar
suor das feras carrega canção silenciosa dentro de si
surgem animais
nos pelos penas dentes escamas órgãos patas
manchas de terra punhado de silêncio
terra aos poucos se faz carne
músculos veias órgãos ossos tripas
nasce primeira mulher
escorre leite dos seios da primeira mulher
leite forma poças poços lagos rios corredeiras oceanos
águas dançam
cada uma a seu ritmo entoam a música terra
despertam o vento
vento sacode os cabelos da primeira mulher
cabelos entram na terra
saem raízes e árvores
árvores tocam os céus
com o afago das folhas
céus se comovem
choram
sementes gotas caem na terra
povoam ventre das feras animais mulher
todos os ventres carregam o cantar da terra
em todo seu silêncio
- Julia Francisca, 2012
[ Essa é uma espécie de cosmogonia pessoal, onde o princípio feminino fecunda a si mesmo. Faz parte de um projeto de vida chamado “Mitologias Íntimas”. Eu sempre preciso de um pouco de coragem para trazer essas coisas ao mundo… ]
Que poema fodido de lindo, Julia. Chorei baldes.
Enviado do meu iPad
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