“a linha que conduz minha vida
revela-se a cada descontinuidade”
Julia Francisca

se a vida é um tecido aberto em eterna costura, Urano é o próprio tecer da vida
com Urano atravessamos a ponte
a ponte cai
o que temos então é a fenda-fresta
não há retorno possível, lugar de origem
o raio subitamente ilumina
as linhas agora, são linhas de fuga
apontam para o estranho vir-a-ser do mundo
é possível dar passagem ao raio?
se entregar ao espanto ?
“Expulsa de seus próprios dias, parecia-lhe que as pessoas da rua eram periclitantes, que se mantinham por um mínimo equilíbrio à tona da escuridão – e por um momento a falta de sentido deixava-as tão livres que elas não sabiam para onde ir.”
Clarice Lispector. Trecho do conto “Amor” extraído do livro “Laços de Família”, Editora Rocco – Rio de Janeiro, 1998, pág. 19.